Colégio Vértice

Dia Internacional da Matemática – entrevista especial

Destaque_Sophia

A UNESCO proclamou 14 de março como o Dia Internacional da Matemática, com o objetivo de valorizar esta ciência que está em todos os campos da nossa vida.

Para celebrar a data, conversamos com a ex-aluna Sophia Uchôa Bortolli, que está no 2º ano de bacharelado em Matemática na USP.

Confiram:

Como começou sua conexão com a Matemática?

Minha paixão pela Matemática começou na escola. A sensação de resolver um desafio era muito satisfatória e enxergava a beleza da Matemática quando um professor ou algum colega me mostrava uma solução mais simples para um mesmo problema.

Nessa época, como percebi que gostava de Matemática e que era “de exatas”, achava que deveria fazer engenharia mesmo sem nunca ter me interessado muito por algum dos cursos de engenharia. Depois de um tempo, percebi que não fazia sentido fazer um curso só por ser “de exatas”.

No início do Ensino Médio, eu comecei a gostar muito de Física e pensei em cursar o Bacharelado em Física. Assim, eu poderia pesquisar Física e também ter contato com a Matemática. Nesse momento, eu percebi que o que queria era ter uma vida acadêmica, ou seja, fazer pesquisas e dar aula em uma universidade, porque assim poderia continuar estudando o que gosto, fazer descobertas e ainda ensinar mais pessoas.

A primeira vez que pensei em fazer o Bacharelado em Matemática foi no 2º ano do Ensino Médio. Comecei a ter aulas de trigonometria e elas revigoraram minha paixão pela Matemática. Além disso, participei de algumas olimpíadas que me fizeram sentir desafiada e também frustrada por não saber tudo de Matemática. Apesar da frustração, sempre encarei a Matemática de forma bem descontraída, as aulas da matéria me faziam distrair dos problemas e eram um motivo para eu sair da cama de manhã.

Já no 3º ano do Ensino Médio, eu precisava escolher que curso faria, mas ainda estava em dúvida entre muitos cursos diferentes (já pensei em fazer outros cursos além de Matemática e Física, como Medicina e Arquitetura). Consegui entrar em contato com um ex-aluno do colégio que estava cursando o Bacharelado em Matemática na USP. Ele me levou para conhecer o Intituto de Matemática e Estatística (IME) e ver uma aula. Quando conheci o IME, me senti em casa. O instituto tem várias lousas nos corredores em que os alunos ficam discutindo problemas, a aula que eu assisti era interessante e a professora que a lecionou parecia incrível. Naquele dia, eu decidi que faria o Bacharelado em Matemática.

Como você define a Matemática?

Para mim, a Matemática sempre foi muito além de números. Ela é uma mistura de pensamento lógico, reconhecimento de padrões e um pouquinho de arte. No Ensino Superior, a Matemática também é o estudo de estruturas, sendo que algumas têm nomes engraçados como corpos e anéis.

Como é o Bacharelado e quais as possibilidades de atuação?

A maioria das pessoas que fazem o Bacharelado em Matemática Pura tem a mesma intenção que eu tinha ao entrar no curso: se tornar um pesquisador na área e um professor de universidade. Na faculdade, é possível se aprofundar em seus assuntos preferidos por meio de uma iniciação científica (IC), que também irá te ajudar a se tornar um bom pesquisador no futuro. Nesse ano, vou fazer minha primeira IC! Após a graduação, penso em complementar o Bacharelado com a Licenciatura ou fazer um mestrado.

Os alunos de Licenciatura em Matemática estudam Matemática e Educação, por isso, são habilitados para dar aula no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, enquanto um aluno do Bacharelado não pode fazer isso. Além disso, alguns poucos alunos se especializam em áreas mais aplicadas, como Estatística, Economia e Computação. Um matemático pode trabalhar em escolas, universidades ou bancos (já que o raciocínio lógico desenvolvido durante o curso é valorizado no mercado de trabalho).

Dicas para quem tem dificuldade em “exatas”

Já para quem tem dificuldade ou não gosta de Matemática, juro que ela pode não ser um bicho de sete cabeças. Uma coisa muito importante para se aprender Matemática é ter uma base bem estruturada, porque muitos assuntos estão entrelaçados. Então, por exemplo, se alguém não sabe bem Geometria Plana, provavelmente terá dificuldade em Trigonometria e Geometria Analítica. Listar todos os assuntos que você não aprendeu direito, mesmo que seja um assunto do Ensino Fundamental I, e encontrar alguém/algo (um professor, um colega, um livro, um vídeo no YouTube, …) para te ajudar a aprender cada coisinha pode ser a solução. Tudo bem se você chegou no Ensino Médio e ainda não sabe algo básico, encontre o que for te deixar mais confortável para que a Matemática não seja desagradável de se aprender.
Além disso, não tente decorar como se soluciona um problema específico. O mais importante é aprender o raciocínio e as “sacadas” por trás de um exercício que você tem dificuldade. Lembre-se também de quebrar os problemas em resoluções menores, já que nem sempre o resultado final pode ser encontrado de primeira.
Enfim, espero que abram seus corações para a Matemática e consigam enxergar cada vez mais beleza no que aprendem dela.

Você foi medalhista de prata no “Torneio Meninas na Matemática”. Como foi esta experiência?

Me chamaram para participar do primeiro Torneio Meninas na Matemática (TM²) após eu ganhar uma medalha na OBMEP. A prova foi bem divertida e os problemas eram interessantes como na maioria das olimpíadas. Eu fiquei surpresa quando ganhei uma medalha de prata no Torneio, porque tinha deixado um dos exercícios completamente em branco. Só que isso é normal em olimpíadas mesmo. Às vezes você ainda não teve o conteúdo para resolver a questão ou na hora da prova, não vem a “sacada” de como resolver aquilo. O importante é se divertir. Por causa da medalha de prata que ganhei, fui chamada para a Semana Olímpica, que foi incrível. A Semana Olímpica é um evento em que medalhistas da OBM e do TM² viajam para algum lugar do Brasil por uma semana e têm aulas de Matemática. O legal é que você pode aprender mais, ter contato com um pouco de Matemática de nível universitário e conversar com pessoas que fazem olimpíadas desde pequenas e sabem muito do assunto.

Antes de ganhar essa medalha da OBMEP e do TM², eu já tinha participado algumas vezes de olimpíadas de Matemática e Física e não tinha ganhado nada, mas mesmo assim gostava muito. Mesmo não ganhando medalha ou menção honrosa, eu achava legal participar de olimpíadas e descobrir assuntos que nunca tinha visto antes e que às vezes nem são dados nas escolas. Quando você ganha uma medalha, podem surgir oportunidades incríveis como a de participar da Semana Olímpica, então vale muito a pena!